“Vemos o fim da era industrial”, diz presidente do Santander Brasil


Para Sérgio Rial, a humanidade entra em nova fase com a digitalização forçada pela covid-19

Sérgio Rial acredita que a efetividade do mundo remoto está começando uma revolução (Germano Lüders/EXAME)

Com a pandemia do novo coronavírus, o mundo se deu conta de que está irremediavelmente conectado. Agora precisa aprender a valorizar os trabalhos essenciais à manutenção da vida em sociedade em meio à digitalização das atividades se acelerando. O presidente do banco Santander Brasil, Sérgio Rial, dividiu suas reflexões em tempos de novo coronavírus.

Que mudanças a pandemia da covid-19 traz?
Ninguém sai melhor da crise. Esta é muito triste por causa das mortes. Está mais clara a interdependência do planeta. A ideia de que a globalização é apenas uma discussão de livre-comércio não só é rasa como não engloba a transformação tecnológica pela qual o planeta já passou. O mundo nunca esteve tão conectado. Esta crise ainda tem feito os grandes cientistas do planeta trabalharem mais juntos. Esse não será o último patógeno — é o início de uma guerra para a qual a humanidade tem de se preparar melhor.

Como o senhor vê a atuação dos bancos na mitigação da crise?
O Santander é baseado na Espanha, que foi muitíssimo afetada pela pandemia. Trouxemos algumas lições de lá para o Brasil. Fomos o primeiro banco a anunciar o adiantamento do 13o salário integral para os funcionários no mês de abril, porque tínhamos consciência de que custaria mais caro para todo mundo viver.

O aumento de 10% no limite de crédito para os clientes foi chamado de oportunista. Essa crítica é justa?
Quem está com seu limite de crédito esgotado e precisa comprar algo não vê desse modo. A ideia é dar espaço caso o cliente precise. Use com moderação. A crítica não é ruim em si, aponta o caminho a tomar. Sempre há críticas aos bancos. Mas nada melhor do que, em uma crise, termos um sistema financeiro sólido. Como seria a reação econômica se os bancos não pudessem emprestar? Tenho muito orgulho da mobilização que todos os bancos fizeram, entendendo que proteger a sociedade é bom para toda a economia — e para o sistema financeiro também, claro.

De que modo a pandemia está afetando as relações humanas e de trabalho?
A efetividade do mundo remoto é revolucionária. Percebemos que quem trabalha remoto não trabalha menos. Trabalha mais, porque deixa de controlar a agenda, está sempre à mercê de uma chamada de vídeo que no mundo físico não ocorria. Estamos absolutamente no ar 24 horas por dia. Tenho dito que o coronavírus encerra a era industrial. Porque todas as esteiras e os processos que podem ser automatizados serão, claramente a partir de agora, resolvidos remotamente, dando uma conveniência à sociedade moderna que na era industrial nunca tivemos. Também nos demos conta de que, para temas complexos, o remoto não funciona. Porque a criação humana necessita da troca de energia. Tem um aprendizado de como o Ocidente quer olhar para seus idosos, o chamado grupo de risco da covid-19 (embora em risco estejamos todos). Na evolução recente da estrutura familiar, muitas vezes eles ficam de lado. E percebemos que enfermeiros e profissionais de várias outras funções absolutamente críticas não são devidamente compensados para o risco que correm. São questões morais e éticas que têm surgido. Precisamos de um vírus para bater palmas para os profissionais de saúde. Quando vamos bater palmas para o policial que está nas ruas e é honesto? Existem profissões que fazem com que nós funcionemos com o mínimo de civilidade. Não é só uma questão de compensação, que é superimportante, mas também de valorização.

Fonte: Exame
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